Com o intuito de melhorar a qualidade de vida do servidor, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) proporcionou mais uma edição do Programa Sextou, realizado pela Escola do Legislativo Ramez Tebet dessa vez com o tema O Servidor Público e a Depressão: Reflexões sobre a Prevenção, Sinais e Tratamento, em alusão às ações do Setembro Amarelo.
Duas palestrantes guiaram o debate no Plenarinho Nelito Câmara nesta sexta-feira (27), a psicóloga e pedagoga Daniele Xavier e a neurocientista Glaucia Benini. Elas enfatizaram a importância de atentar a alguns sinais psicológicos:
- falta de interesse em coisas antes prazerosas;
- ansiedade (mãos suando, frio na barriga, taquicardia, apertamento no peito);
- agressividade e respostas violentas;
- falta de foco e concentração (letargia);
- tudo parece ser 10 vezes pior do que realmente é;
- melancolia;
- isolamento;
- neuroses e angústias (me sinto bem no trabalho?);
- negação de que algo está acontecendo e que é preciso ajuda.
Sintomas físicos mais comuns:
- insônia;
- impotência sexual ou falta de libido;
- problemas na tireoide;
- pressão alta;
- problemas intestinais;
- cansaço/esgotamento físico (e a Síndrome de Burnout ? "queimar por dentro");
- gastrites.
Remédio e terapia
Segundo a neurocientista, a depressão traz um desequilíbrio do corpo, podendo ser hereditário em 40% dos casos e deve ser tratada aliando a psicologia e a psiquiatria. “Na maioria dos casos é preciso o uso de medicamentos para corrigir esse desequilíbrio, pois o depressivo se vê sem saída e tem saída. Se você encontra alguém com um problema físico, que se não procurar um pronto socorro ela vai morrer e você corre com ela ao pronto socorro, por que não fazer isso também pela saúde mental?”, questionou Glaucia Benini.
A psicóloga concordou. “Temos que olhar para o sujeito como um todo, em sua complexidade e compreender que é preciso cuidar do mental. O sistema muitas vezes não colabora, o ambiente de trabalho não dá o suporte necessário, mas é preciso vencer a barreira do tabu e da negação”, ressaltou Daniele Xavier, que alerta para os inúmeros casos de suicídio, consequentes da depressão não tratada e prevenida.
Alguns servidores confirmaram que já passaram por quadros depressivos. “Voltei de uma recente cirurgia de câncer de tireoide e ainda me sinto mentalmente frágil. Não queremos mostrar, queremos vir, trabalhar, nos sentir úteis, mas como ainda estou em tratamento me sinto precisando de apoio. Muitas vezes não queremos ver a depressão como doença, mas ela é”, disse Telma Justi, servidora da Secretaria de Assuntos Legislativos e Jurídicos.
O tenente Tagino, da assessoria militar da Casa de Leis também usou a fala para relembrar que muitos homens se negam a pedir ajuda. “Essa questão da masculinidade e da pressão de ser o provedor faz com que temos muitos casos de depressão e consequentes suicídios. Na Polícia Militar já tivemos quatro só esse ano, todos homens. Há muitos trabalhando doentes. O serviço desgastante, a falta de apoio e a barreira mental nos faz repensar a doença”, considerou.
Como ajudar e buscar apoio
As profissionais citaram formas de ajudar ou buscar ajuda:
- acolher o colega de trabalho, ouvindo-o e encaminhando para profissionais e, se necessário, procurando a família dele para alertar sobre o quadro;
- se tiver alguém depressivo na família, a família também precisa de ajuda e suporte profissional;
- dialogar sobre saúde mental sempre que possível para quebrar os tabus que envolvem a depressão;
- entender que não pode interromper tratamento médico e psicológico sem o aval do profissional;
- perceber se o líder está adoecendo todo um grupo é preciso encaminhá-lo ao tratamento também;
- não tomar os problemas dos outros como seus, a ponto de adoecer junto.
Na ALEMS
Na Assembleia Legislativa há o espaço Apoio Legal, em que uma psicóloga da Escola do Legislativo está à disposição para a escuta ativa ao servidor e dar os encaminhamentos necessários, basta ir ao setor. Para o coordenador da Escola do Legislativo, Ben-Hur Ferreira, este Sextou na ALEMS foi mais uma oportunidade de reflexão.
“Somos seres humanos em formação, em todas as dimensões, técnicas e existenciais e esse é o objetivo do Sextou, ampliar a discussão sobre as coisas que não há escola para ensinar, por exemplo, como lidar com o luto, a depressão, uma separação, ninguém ensina como ser pai, como ser mãe, esposa ou esposo. Nosso projeto é abrir uma roda de conversa leve, mas profunda e por isso agradeço imensamente a presença de todos”, finalizou Bem-Hur.
Uma audiência pública já foi realizada para debater o tema - reveja aqui. Alguns projetos de leis estão em tramitação na Casa de Leis confira-os aqui ou buscando na barra de pesquisa das notícias por Setembro Amarelo.